domingo, 23 de março de 2008

PRÓLOGO




















Todos os anos, no município de Maués (estado do Amazonas), durante os meses do verão amazônico (de julho a outubro), os índios da tribo sateré mawé realizam um ritual dos mais interessantes: tratá-se do ritual da tucandeira, dolorosa prova de força na qual os meninos na puberdade se expõem às picadas de dezenas de tucandeiras, tipo de formiga amazônica cuja ferroada causa até febre. Os índios confeccionam luvas com palhas de arumã (uma palmeira amazônica) e prendem nelas as formigas previamente entorpecidas pelo timbó (líquido entorpecente retirado de um cipó de mesmo nome). As formigas acordam furiosas ao se verem presas á palha e é neste momento que os índios realizam a dança.
Uma vez, em 1984, vi uma apresentação da dança da tucandeira em uma reportagem da TV amazonense. Na ocasião, um menino de dez anos passou na prova e outro, de dezesseis, forte como uma tora de madeira, não conseguiu ir até o final, chorando e se contorcendo de dor.
Você deve estar se perguntando qual o sentido de tão bárbara cerimônia. Tratá-se de um rito de passagem, um ritual realizado para preparar os jovens para a vida adulta. Há muitos ritos de passagem, em diversas culturas. Os kioko, da Luanda, realizam uma circuncisão ritual nos meninos, os índios do Xingú enclausuram as meninas durante a primeira menstruação.
Mas e nós, "pessoas modernas", temos nosso rito de passagem? Temos alguma prova, ou ritual que nos prepare para a vida adulta? Talvez você lembre da crisma católica, ou da festa de debutantes. Talvez pense no primeiro beijo, na primeira transa, ou no vestibular. Mas estas cerimônias e acontecimentos não são ritos de passagem, pelo menos na acepção profunda em que estou colocando.
Qual seria então nosso rito de passagem? Você quer que eu lhe responda? Então continue essa conversa comigo, que mais adiante eu lhe respondo...

Marcelo Farias. Ilustração: Ritual da tucandeira numa aldeia sateré mawé.

4 comentários:

Barbara Leite disse...

Muitoooooo interessante!
Estou aqui ansiosa pra continuar a prosa, e pensando qual seria o nosso rito de passagem!
Estou adorando saber sobre essa cultura!
Obrigada!
Beijos

Ana Kaya disse...

Nossa que legal, eu já havia visto uma reportagem sobre este costume indígena e sobre outros tb. Eles são um povo cheio de costumes e regras. Talvez porisso sejam mais felizes que nós.

Pensei e pensei e não sei qual seria nosso rito de passagem, talvez uma grande decepção ou tristeza, ou ao contrário uma grande alegria e vibração.
No meu caso, meu ritual de passagem foi quando minha mãe morreu e eu tinha 14 anos, aquele velório e tudo aquilo lá me mudaram pra sempre de uma forma que não volta atrás.
Sei lá, to aguardando os comentários a mais. Vai ser legal.
Beijos a todos.

Unknown disse...

Marcelo, obrigada pelo convite. Mto interessante essa cultura, mas eles assim como nós, aprendemos com o sofrimento e assim amadurecemos, pra outros problemas e sofrimentos q virão. Tive rito de passagem , não como esse, mas q tbm causou mto sofrimento,tristeza, me derrubou, mas q depois me fortaleceu, pra enfrentar outros q ainda viriam. Até +

Bala Salgada disse...

Opa, opa, o blog aqui parou?
Dê continuidade, você escreve bem!